domingo, 28 de fevereiro de 2010

Se pudessem me ouvir


por Central de Notícias em 18/01/2010 às 14:33

2010. Século XX1. Época em que não basta à internet noticiar no exato instante de cada fato. Exige-se que ela adivinhe o futuro! Era de relacionamentos tão virtuais quanto vazios. De uma juventude tão informada quanto desnorteada. Diante do espelho, paro diante de minha geração. Fito nos olhos as pessoas de meu tempo, jovens como eu, e sinto como se me perguntassem: “O que você tem a nos dizer?” Respiro fundo, tomo fôlego e relato o que diria a todos eles, caso pudessem me ouvir.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que é impossível mudar o mundo inteiro, mas que é possível mudar todo o seu mundo. Este “mundo” é a realidade que está a nosso alcance, até onde podemos influenciar. Diria também que nossos dias precisam de mudança, de pessoas diferentes, e que somos chamados para sê-los.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que muitas vezes na vida vamos perder, mas não é isso que nos fará derrotados. Importa a forma como reagimos ao caos. Por isso, também diria que não devemos viver como se fôssemos eternos na Terra, pois um dia nosso vigor cessará. Nem sempre seremos fortes e ágeis. Perguntaria o que têm guardado de reserva para o dia mau, e com quem poderão contar quando ele chegar. Diria também que, quando partirmos, não importará tanto o que fizemos, mas o que representamos individualmente para as pessoas.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que nunca devemos desdenhar do pobre, do fraco ou do velho, pois as voltas que o mundo dá são responsáveis pelas lições mais dolorosas de nossa existência.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que no futuro vamos olhar para trás e perguntar: “O que fiz dos meus melhores anos?”. Diria que a resposta, não importa qual seja, estamos construindo hoje.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que felicidade não é chegar a algum lugar, mas estar sempre motivado a chegar, ou seja, não é um estado, mas um caminho.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que seus pais são as pessoas que mais os ama neste mundo. Diria que jamais desprezem sua velhice, seus cabelos brancos, pois a experiência tem qualidades que só ela possui.
Se pudessem me ouvir, diria que não devem ter vergonha de dizer “eu te amo”, de abraçar seus amigos e pedir-lhes ajuda. Diria que reconhecer um erro não é um ato de covardia, mas de grandeza, e que o choro, assim como o ombro, foi feito para mulheres e homens.
Se pudessem me ouvir, diria que faltam aos relacionamentos afeto, intimidade, respeito e admiração. Defenderia que amar não é um erro, que devemos nos dedicar às pessoas enquanto as temos. Ainda diria que, se nos amássemos, desvendaríamos a essência do que é ser cristão. Foi o que Cristo disse: “Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros” (João 13:35)
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que o ódio é uma via de mão dupla, e que nunca devemos nos entristecer com a felicidade dos outros. Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que desconfiassem dos caminhos fáceis, das vitórias repentinas e dos prazeres momentâneos. Acrescentaria que não devemos lançar nossos fundamentos sobre a aprovação das maiorias, pois as mãos que aplaudem são as mesmas que amanhã poderão apedrejar.
Se pudessem me ouvir, diria que o tempo é o bem mais precioso que temos. Então perguntaria com que o estão gastando.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que temos que decidir se nossas vidas serão guiadas pelas circunstâncias ou pelas nossas prioridades. No próximo instante, indagaria quais são seus princípios, seus valores, seus nortes, apontando para o exemplo de Cristo.
Se pudessem me ouvir, afirmaria aos jovens que jamais olhem para a vida como vítimas, pois assim agem os que caem pelo caminho. Desafiaria a olhar o futuro de cabeça erguida e diria que olhassem para suas mãos, pois ali se encontram os pincéis com que pintaremos o quadro de nossa história.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que eles não estão sozinhos na busca de seus sonhos, e que a esperança é sempre bela companheira.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que um homem que se vende recebe muito mais do que vale. Clamaria que tivessem compromisso com sua própria consciência e que não envergonhassem a Deus com promessas vazias. Diria que nosso caráter deve ser firme e que os princípios do Cristianismo são inegociáveis.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que não tenham medo de agir corretamente, ainda que sejam incompreendidos. Diria não podemos nos acovardar diante da injustiça e que nossa dignidade não pode estar à venda.
Se pudessem me ouvir, diria aos jovens que pensassem mais antes de agir, mas que quando o fizesse, exalassem paixão. Citaria o exemplo de Salomão que, podendo escolher dentre todos os bens, pediu a Deus sabedoria, e isso fez toda a diferença em sua vida.
Se pudessem me ouvir, revelaria aos jovens que, assim como estou diante de um espelho, eles também estão. Diria que todos os que olharem para dentro de si mesmos, descobrirão que temos um compromisso com a vida, com o amor, com as pessoas, com nossa geração e principalmente com Deus.

Edilson Holanda